quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Sobre as músicas e compositores do Brasil


Nos primórdios do cinema brasileiro, não existia ainda um aparelho que captasse o áudio junto com a imagem, como acontece nos dias de hoje. Mesmo assim, sempre houve o acompanhamento de músicas populares de uma maneira mais “poética”.

As sessões de filmes mudos, não seria normalmente visto em completo silêncio, muitas vezes eram acompanhados por música ao vivo, geralmente improvisada por um pianista ou orquestra. Já no início da indústria do cinema a música foi reconhecida como uma parte essencial de qualquer filme, o clima para a ação de colocar na tela. No começo no cinema brasileiro ofereceu operetas ( é um tipo de teatro musical) com cantores realizando por trás da tela.

Os cinemas geralmente tinha um pianista para acompanhar a projeção ou até mesmo grandes orquestras, assim podendo até mesmo adicionar os efeitos sonoros. Conforme o crescimento da indústria cinematografica e o tamanho da produção do cinema mudo, a empresa se tornou a principal fonte de emprego para músicos.

Também havia personagens cantantes que dublavam o som da própria voz, assim trazia um maior divertimento para as pessoas presentes no “show”. Abaixo, alguns exemplos de músicos:

• José do Cavaquinho – Guitarrista, Flautista, maestro e Compositor, era um dos artistas que se postavam atrás da tela para realizar enredos musicais para os filmes.



• Ernesto Nazareth - trabalhou e criou fama como pianista da sala de espera do cinema Odeon, para o qual compôs o tango "Odeon", uma de suas peças mais célebres, que ganhou uma popular transcrição para violão.




• Ari Barroso – empregou-se como pianista no Cinema Íris, no Largo da Carioca e, mais tarde, na sala de espera do Teatro Carlos Gomes com a orquestra do maestro Sebastião Cirino.

Infelizmente poucas composições sobreviveram a partir deste período, musicólogos frequentemente encontrar problemas ao tentar fazer uma reconstrução precisa das composições restantes.

Abaixo um registro com mais músicos e artistas da época:















Ernesto Nazareth ouviu os sons que vinham da rua, tocados por nossos músicos populares, e os levou para o piano, dando-lhes roupagem requintada. Sua obra se situa, assim, na fronteira do popular com o erudito, transitando à vontade pelas duas áreas. Em nada destoa se interpretada por um concertista, como Arthur Moreira Lima, ou um chorão como Jacó do Bandolim.

O espírito do choro estará sempre presente, estilizado nas teclas do primeiro ou voltando às origens nas cordas do segundo. E é esse espírito, essa síntese da própria música de choro, que marca a série de seus quase cem tangos-brasileiros, à qual pertence "Odeon". Obra-prima no gênero, este tango é apenas mais uma das inúmeras peças de Nazareth em que "melodia, harmonia e ritmo se entrosam de maneira quase espontânea, com refinamento de expressão", como opina o pianista-musicólogo Aloysio de Alencar Pinto.


"Odeon" é dedicado à empresa Zambelli & Cia., dona do cinema homenageado no título, onde o autor tocou na sala de espera. Localizado na Avenida Rio Branco 137, possuía duas salas de projeção e considerado um dos "mais chics cinematógraphos do Rio de Janeíro". Em 1968, a pedido de Nara Leão, Vinícius de Moraes fez uma letra para "Odeon":

Ai, quem me dera / O meu chorinho / Tanto tempo abandonado / E a melancolia que eu sentia / Quando ouvia / Ele fazer tanto chorar / Ai, nem me lembro / Há tanto, tanto / Todo o encanto / De um passado / Que era lindo / Era triste, era bom / Igualzinho a um chorinho/ Chamado Odeon.
Terçando flauta e cavaquinho / Meu chorinho se desata / Tira da canção do violão / Esse bordão / Que me dá vida / Que me mata / É só carinho / O meu chorinho / Quando pega e chega / Assim devagarzinho / Meia-luz, meia-voz, meio tom / Meu chorinho chamado Odeon
Ah, vem depressa / Chorinho querido, vem / Mostrar a graça / Que o choro sentido tem / Quanto tempo passou / Quanta coisa mudou / Já ninguém chora mais por ninguém / Ah, quem diria que um dia / Chorinho meu, você viria / Com a graça que o amor lhe deu / Pra dizer "não faz mal / Tanto faz, tanto fez / Eu voltei pra chorar com vocês"
Chora bastante meu chorinho / Teu chorinho de saudade / Diz ao bandolim pra não tocar / Tão lindo assim / Porque parece até maldade / Ai, meu chorinho / Eu só queria / Transformar em realidade / A poesia / Ai, que lindo, ai, que triste, ai, que bom / De um chorinho chamado Odeon
Chorinho antigo, chorinho amigo / Eu até hoje ainda percebo essa ilusão / Essa saudade que vai comigo / E até parece aquela prece / Que sai só do coração / Se eu pudesse recordar / E ser criança / Se eu pudesse renovar / Minha esperança / Se eu pudesse me lembrar / Como se dança / Esse chorinho / Que hoje em dia Ninguém sabe mais.
Fonte: A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34

Foto retirada do site: http://www.sfreinobreza.com/itajazzbandbatuta.jpg e dos acervos da Cinemateca Brasileira
http://cifrantiga3.blogspot.com/2006/03/odeon.html

6 comentários:

  1. Nossa a internet é mesmo fascinante!!! Estava navegando na net e nem me lembro como me deparei com este blog sobre cinema, como não sei nada sobre o assunto resolvi ler um pouco e, para minha surpresa, não é mais um daqueles blogs chatos e sem conteúdo. Pude entender como era tudo no começo. Achei muito interessante!!! Parabéns!!! Quando vocês irão postar mais alguma coisa?? Já estou curiosa para aprender mais.

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  2. Pois é Tati, no meu caso estava procurando algo relacionado ao cinema, e aqui está um dos textos mais bem elaborado e totalmente dinamico, eu estava procurando algum registro da época e aqui encontrei..em vez de um registro encontreivários, parabens esse blog é perfeito para quem busca algo em relação a cinema de época, infelizmente mesmo poucas composições sobreviveram a época.
    Bom espero que tenha mais.

    Att
    Fernando Gaspar

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  3. No garimpo feito pela intenet , obtive o grande prazer de achar este blog , cujo assunto princiapl cinema me interessa muito, fico imensamente encantada com titulos tão peculiar!
    Parabens as autoras deste blog , e fica toda minha atenção , uma vez que me interesso pelo assunto.
    Att Flávia Puccini

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  4. Nossa , muito bacana conhecer sobre o a nossa cultura assim , voces estao de parabéns...ganharam um seguidor do blog!!!

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  5. adorei o post ...

    O onteudo do blog parece ser ótimo. Hoje em dia agente ate ve algumas coisas sobre cinema mas geralmente estão falando do contexto atual.
    Eu nao tinha conhecimento dos musicos brasileiros que faziam trilhas de cinema mudo apesar deles semrem bem citados e reconhecidos ...

    continuem assim e aguardo o proximo post

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  6. Direto e reto o assunto flui sem enrrolação relembrado nomes da nossa música popular Brasileira,como Ari Barroso celebre compositor de Obras primas como Aquarela do Brasil sua presença atuante, no cinema mudo Brasileiro mostra a qualidade desse cinema esquecido. Beleza de blog.....

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